Sempre que chego ao limiar da resistência, lembro de um poema em que sinto “Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço…” a tomar conta de mim. E mesmo que este cansaço não seja “sequer de tudo ou de nada” é sinal que é de tudo um pouco. É feito daquelas pequenas coisas que se juntam para uma tempestade em crescendo. É a gota de água prestes a cair no copo que o vai fazer transbordar. É o passo em frente que se dá quando no penhasco se falha o final do caminho. É o não conseguir olhar em frente porque por curto que o caminho seja parecem milhas por percorrer. É erguer de madrugada com o peso do mesmíssimo cansaço impregnado nos ossos. É deixar a água escorrer pelo corpo num duche a um tempo eterno por nos deixar intemporais mas breve porque o relógio não pára. É sentir aquele nó quando se fecha os olhos e se pensa “Ah merda, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser...” Tudo junto com “Os amores intensos por o suposto alguém” fazem o íssimo que Pessoa coloca na pena de Álvaro e eu sinto como meu múltiplas vezes.
[devaneio em redor do poema de Álvaro de Campos, "O que há em mim é sobretudo cansaço" excertos em itálico, que pode ler na íntegra aqui]