Os textos são da minha autoria excepto quando explicitamente mencionado e as imagens são na sua maioria retiradas da internet.

@lexis

16 de maio de 2010

mundo perfeito

Em algum mundo perfeito acordo com um beijo sem precisar de o reclamar, passo o dia com um sorriso na certeza de um reencontro ao fim de um longo dia de trabalho, mesmo que só tenham passado escassos minutos.

Na fria realidade envolvente em crescendo a cada dia que passa anseio pelo carinho que os meus olhos pedem, e ao final de um dia, passado vagarosamente por mim, pouco alento me resta para sobreviver ao cair da luz do dia.

12 de maio de 2010

... e eu corro ...

Ainda que nada o previsse ou que vagamente se notasse, pairava um ligeiro cheiro a tempestade no ar. Não sei se são as gaivotas que tão longe do mar esvoaçam que me fazem adivinhar tempestade ou se é o nevoeiro que se aproxima a passos largos do caminho que percorro rapidamente sem sequer ver as pedras do caminho. Os passos apressados fazem-me passar brevemente por uma clareira e, reparo eu, a visão baça não é do nevoeiro, são apenas as lágrimas que me escorrem pela cara abaixo e distorcem a realidade que de si já pouco tem de nítida. E começo a correr.
Assim como eu, será que é assim que os loucos (os outros loucos, penso eu de fugida...) vêm ao seu redor ou serei eu apenas um deles que saiu daquela casa amarela no início de um longo caminho de pedras amarelas.
Não vislumbro nem o homem de lata nem ninguém que canta que para além do arco-íris tudo é lindo e maravilhoso. Vejo apenas uma estrada interminável que sem saber onde comecei o caminho nem onde vou acabar a corrida de início lenta e depois a cada segundo mais apressada deixa que eu vislumbre ao longe o azul do mar que sempre gostei de admirar quando o meu desejo de voar cada vez mais alto se apoderava de mim. Nem sinto as pernas que de tão doridas já nem são minhas. Confundem-se com as pedras do caminho, fundem-se com o verde das ervas que despontam nos intervalos dos tijolos amarelos em que se transforma cada um que piso. E eu corro…
Sem abrandar o ritmo, vou olhando para trás do ombro e apercebo-me que deixo atrás de mim um rasto imenso de pegadas apressadas sobre um caminho feito de cinza pedra e pó. A cor sou eu que coloco nas pedras do caminho… o azul do mar não é azul, é cinzento porque vem aí tempestade e de repente cai uma chuvada … e eu corro sem vontade de parar pois já não preciso nem do descanso. As pernas têm vontade própria. O meu cabelo esvoaça e de repente não parece cabelo, parecem fiadas de algodão que alguém fiou e colocou na minha cabeça. Não me lembro de ter o cabelo assim tão branco… E eu corro …
Será que o esforço inumano de correr sem ter forças me deixou o cabelo branco? Detenho o olhar numa das poucas árvores que vejo ao longo do caminho. Um corvo observa-me e eu corro. Pressinto os olhos do corvo a acompanhar cada passo que dou tresloucadamente em direcção ao mar que agora me parece azul novamente. Nem dou pelas bátegas que se confundem na minha cara com as lágrimas que teimam em cair. Sei que continuam a cair porque sinto um leve saber a sal. E eu corro…
Chego a uma praia de seixos. Penso que devia descalçar-me mas afinal já não preciso… Será que em algum momento estive calçada ao longo do caminho desde aquele início daquela estrada que nem me lembro onde começou e nem sei onde vai acabar? Já não interessa, e eu corro...
Sinto finalmente, com alguma dose de satisfação, dor em todos os músculos do corpo, alguns que nem sabia que tinha e parece-me que talvez esteja na altura de parar de correr. Sinto os pés gelados da água que me bate bruscamente nas pernas e eu avanço apressadamente…. O mar é tão grande! A praia é imensa e eu vejo-a como se de repente tivesse visão panorâmica. Sei que estou sozinha e deslizo... Sinto que vou parar quando a força da maré combate a força que faço para avançar… e arrasto-me…
A água gelada chega finalmente ao meu pescoço e percebo que o meu cabelo está realmente branco e se confunde com o sal das ondas que batem agora por cima da minha cabeça.
Já não corro!

9 de maio de 2010

"Versailles"


Hoje sentei-me na Versailles aguardando inspiração para escrever.
Bebi um café e a única palavra que saiu foi dirigida ao empregado: ‘Obrigado’
Mas também...
Podia ter ido ao Nicola ou à Brasileira do Chiado procurar alguns vapores de inspiração de tempos idos. Mas não.
Pensei que aquele ar centenário fosse suficiente para me alimentar o espírito. Mas não.
Até que se fez luz – deixemo-nos de ilusões – só as pessoas são a verdadeira inspiração das pessoas.
É certo que o Mestre buscava inspiração no Sol, no montes, no luar, bastando-lhe isso mesmo, mas ... ele não existia.
A escrita para mim sempre foi um continuar da existência, mas sem fonte de inspiração, sem ter ninguém para quem escrever, de nada servia, até um dia ...

o primeiro "post" prosaico

Blog pensado e estruturado há muito tempo que vê agora a luz... ou talvez não!